sábado, 15 de agosto de 2009

Festival Sudoeste: Faith No Nore - Compacto do único dia que interessa

Em Abril de 2008 recebi a pior notícia possível: os Faith No More tinham encerrado actividades, uns meros dois meses depois de terem actuado em Portugal, naquele que foi o último concerto da banda. Também por essa altura, os Soundgarden tinham resolvido fazer a mesma brincadeira, pelo que estava mesmo muito chateada. As minhas duas bandas preferidas da altura tinham ido com os porcos e eu, menor de idade que era (17 aninhos) e a morar na pasmaceira, nunca as tinha podido ver ao vivo. Não era justo!
Até hoje.
Depois disso, e nesse mesmo ano, comecei a dar em som mais pesado, entrei para a universidade, mudei-me para a capital e deixei-me de grunges e afins. Continuei a ouvir Faith No More até hoje, sem nunca imaginar que voltariam a tocar juntos. Nunca como agora me soube tão bem enganar-me.
O cartaz do Sudoeste deste ano era fraquíssimo e só mesmo Faith No More para me levar a esta alegre romaria em direcção à Zambujeira do Mar (e a Odeceixe para pernoitar), sempre muito bem acompanhada. Assim sem querer éramos cerca de vinte, vindos de todo o Portugal e até um de Espanha.
O palco principal abriu com os sempre muito agradáveis X-Wife, pelos motivos já enunciados no post sobre o terceiro dia do Alive.




Pelo meio tocaram os Blind Zero (que não vi porque fui jantar, mas deu para ouvir a versão de "Where is my mind?" dos Pixies e uma outra dos Depeche Mode), os Mad Caddies (no palco Sapo Positive Vibes) que fui ver para fazer horas até FNM, porque no palco principal tocavam a essa hora os australianos e chatinhos Jet e não me estava a apetecer ouvi-los.
E chegamos ao que realmente interessa: Faith No More.
Vestidos de fatinho cor-de-salmão, entram em palco ao som de uma muito divertida versão do pimbalhoco "Reunited" de Peaches & Herb, como tem acontecido em todas as datas da "Second Coming Tour". Billy Gould no baixo, Jon Hudson na guitarra, Roddy Bottum nas teclas, Mike Bordin e as suas já grisalhas rastas na bateria entram em palco às escuras e assim tocam o início do tema. Comme d'habitude, as divas fazem-se sempre esperar e Mike Patton não foge à regra. De aspecto semi-gigolo, no seu engomadinho fato salmão, cabelo lambido para trás com gel, óculos escuros e bengala na mão, ou não tivesse Patton sofrido um estiramento na perna que a tal obriga, entra, por fim, a cantar o sentimentalão "Reunited" a meias com Bottum. Da lesão na perna não nos lembramos nunca, nem Patton, aposto eu, porque a bengala cedo voa para outras paragens e o vocalista pula, rebola e mexe-se como se nada fosse. Se tiveram oportunidade de ver a actuação de FNM no Download Festival há dois meses atrás, em que Mike Patton se atira para o chão no palco a fazer abdominais, enquanto canta "We Care a Lot" sabem do que estou a falar. Aos 41 anos, Patton está ainda em grande forma e a voz, essa, está no ponto, como sempre e como os milhentos projectos em que participa/participou (Mr. Bungle, Fantomas, Peeping Tom, Tomahawk, Lovage, as colaborações com os Dillinger Escape Plan, John Zorn, entre inúmeros outros) atestam.
No espaço de apenas uma semana vi os dois concertos do ano e dois dos concertos de toda a minha vida: Faith No More e Nine Inch Nails (que não foi pela primeira vez, mas cujo grau de devoção faz com que o sentimento seja quase semelhante). Não posso pedir muito mais que isto. E daí até posso, mas isso são outros futebóis que não vêm agora ao caso.
Muito comunicativo e, na grande maioria das vezes, em português, Patton vai perguntando quem de entre o público esteve presente no último concerto que deram, em Lisboa (há vários braços no ar, benza-os Deus!), quando eram «uma banda a sério», dispara com ironia. Ao ver um espectador de barbas coberto por uma máscara facial (medo da gripe suína?), diz-lhe: «Pareces o King Kong e estás com medo de germes?». Risota garantida. "Evidence", ou "Evidencia", já que foi cantado em português (cujo vídeo feito por moi même podem ver em cima) é dedicado «ao meu grande irmão, Cristiano Ronaldo» (assim mesmo, em português também). Mais risota. Este gajo tem mesmo piada!
"Do you want some «mais»?" A banda tinha aprendido a dizer «mais» nos dias que precederam o concerto e disse-o muitas vezes. "You guys deserve some MAIS!", foi a frase que precedeu um medley de um hino de futebol, seguido de uma versão de "Chariots of Fire", de Vangelis e, finalmente, de "Stripsearch" (vídeo postado igualmente em cima). Não só merecíamos mais, como merecemos que vocês voltem a gravar um álbum e a voltar cá um dia destes. Isso é que era de valor!
Segue-se o alinhamento:

Reunited (versão de Peaches & Herb);
Land of Sunshine;
Caffeine;
Evidence / Evidencia (em português);
Surprise! You're Dead!;
Last Cup of Sorrow;
Cuckoo for Caca;
Easy (versão dos Commodores);
Ashes to Ashes;
Midlife Crisis;
I Started a Joke (versão dos Bee Gees);
The Gentle Art of Making Enemies;
King for a Day;
Be Aggressive;
Epic;
Just a Man;

Encore:
Chariots Of Fire/Stripsearch;
Ugly In The Morning;

Encore 2:
Midnight Cowboy (versão de John Barry);
We Care a Lot.

Durante "Midlife Crisis" (e o que eu gosto desta!), a banda pára e solta-se o coro ensurdecedor do público: "You're perfect, yes, it's true... but without me you're only you. Your menstruating heart it ain't bleeding enough for two!" Bonito. No final, o agradecimento sentido de Mr. Patton a dizer que tínhamos feito muito boa figura.
"The Real Thing" não foi tocado no passado sábado, com muita pena minha, mas ficam as palavras da letra que exprimem o que me passou pela alma no final do concerto:

"The perfect moment
That golden moment
I know you feel it too
I know the feeling
It is the real thing
You can't refuse the embrace...
[...]The pinnacle of happiness
Filling up your soul
[...]Yes, the ecstasy, you can pray
You will never let it slip away."

Nota: 100%, "Perfect, yes, it's true".

Esgotam-se-me as palavras. Quando se gosta mesmo a sério de uma banda, tudo o que se escreve soa banalzinho e disparatado.
Depois disto, e uma vez que, até ver, os Soundgarden não ressuscitam, já posso morrer feliz. :-)












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