sábado, 31 de janeiro de 2009

"O Estranho Caso de Benjamin Button"



"Life can only be understood backward...it must be lived forward."

"Life isn't measured in minutes, but in moments."

Uma anciã no leito de morte entrega um diário à filha para esta o ler em voz alta, num hospital em alvoroço devido a um furacão. O diário pertence a um tal de Benjamin Button e Daisy, a anciã, nunca antes tivera coragem de o ler.
Já aqui tinha escrito sobre o livro de F. Scott Fitzgerald, cuja história me impressionou sobremaneira e agora chega a vez do filme. O que dizer sobre um guião que difere tanto do livro em que se baseia? Diz-se: MAGNÍFICO! Que David Fincher é um mestre da realização, isso já todos sabemos, agora que seria capaz de pegar no guião de Eric Roth baseado no conto de Fitzgerald e transformá-lo numa obra-prima de aguda sensibilidade é algo que eu não supunha possível a um realizador tradicionalmente ligado a um género mais crú, o "thriller".
Tal como disse na altura em que aqui fiz a resenha do livro, receava as muitas alterações necessariamente sofridas pela história de modo a poder adaptar-se ao universo "hollywoodesco", e, por conseguinte, aos Oscars. Receios dissipados. As 13 nomeações do filme provavelmente cingir-se-ão às categorias técnicas (os efeitos especiais de envelhecimento/rejuvenescimento são soberbos), porque ainda há na Academia votante a ideia de que Brad Pitt é uma cara laroca com algum jeito para a coisa, mas apenas uma cara laroca e as caras larocas, pelo menos no que às mulheres diz respeito, só ganham Oscars quando se transformam em gente feia (vejam-se os exemplos de Charlize Theron em "Monstro", Nicole Kidman em "As Horas" e, em certa medida, Julia Roberts em "Erin Brokovich"). Neste filme Pitt interpreta Benjamin em todas as fases da sua vida, desde os 80 anos até à adolescência e os efeitos especiais são, nunca é demais referir, perfeitos. A interpretação de Pitt é, no mínimo, notável e completamente merecedora da estatueta dourada. Mickey Rourke já ganhou o Globo de Ouro e aponta-se para que leve no bolso também o Oscar pelo seu «boxer». Espero que as previsões não se concretizem. Não premiar o desempenho de Brad Pitt neste filme roça o criminoso.
Benjamin e Daisy conhecem-se quando este tem 70 e tal anos e ela é apenas uma criança de seis. Daisy torna-se bailarina e segue o seu rumo e Benjamin parte para trabalhar num rebocador, viaja pelo mundo e envolve-se nas forças aliadas na II Grande Guerra. Ao contrário da maior parte dos seus companheiros do barco, sobrevive e volta a casa para a mulher que o criou quando o pai o abandonou em frente a um lar de idosos, tolhido pelo desgosto da morte da mulher no parto. Queenie (brilhante Taraji Henson, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz Secundária e, espero eu, vencedora), funcionária desse lar, acolhe o enrugado e bizarro bebé e trata-o como um filho.
A meio da vida, Daisy e Benjamin voltam a encontrar-se. "We're almost the same age. We're meeting in the middle", diz Daisy.
"Nothing lasts. And what a shame that is."
"Some things last."

Escuso-me a contar a história do filme. É demasiado bom para não ser visto. A única coisa que me ocorre escrever é que a história de Benjamin Button nos faz pensar, ainda que saiba ser esta uma afirmação demasiado simplista. Pensar na forma como gastamos o nosso tempo, nas actividades a que nos dedicamos, nas pessoas que deixamos ou não entrar na nossa vida e, sobretudo, na forma como vamos perdê-las.
"You never know what's coming for you", diz Queenie ao filho. E hoje, já tomaram alguma decisão importante? Se ainda não o fizeram e vão ver o filme em breve, aposto que no genérico final já estarão a pensar nisso. I know I did.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O verdadeiro sentido da vida...


E em letras pequeninas em baixo, continua-se: "After all, you're probably going to have to do it again tomorrow."

O sentido da vida está à venda no CCB.

RocknRolla

"Johnny Quid? Dead?"
"Our Johnny?"
"Well, if he's dead, that's the third time this year."

"If a slap don't work, you either cut'em or you pay'em, but you keep the receipts 'cause this ain't the Mafia!"

"You'll never sing the same if your teeth ain't your own..."

Uma estrela rock "junkie" que resolve «morrer» porque vale mais morto que vivo, um padrasto cruel, rei do crime do submundo de Londres, um xenófobo que controla um vereador de origem indiana e (quase) tudo consegue, o seu braço direito, Archibald, céptico em relação à emergência da nova elite do crime vinda de leste, um magnata russo que quer construir um estádio, a sua contabilista de 30 anos casada com um importante advogado homossexual, num casamento de conveniência muito inconveniente. Um gangue de banditagem com nomes como One Two, Mumbles e Bob Bonitão, o engatatão de meninas prestes a ir para a cadeia durante 5 anos que resolve sair do armário, recusar a orgia com duas gémeas oferecida pelos amigos como prenda de despedida e confessar o seu amor pelo melhor amigo, os agentes americanos da estrela rock decadente, um quadro da sorte desaparecido que nunca é mostrado e uma banda-sonora de estalo, com o muito agradável "Bankrobber" dos The Clash a fazer parte da trilha do filme, um genérico avassalador musicado pelos Black Strobe ("I'm a Man"), para além da hábil realização de Guy Ritchie, o Sr. Ex-Madonna, que acertou no jackpot com este filme.
Afinal, o que significa ser um RocknRolla?
A quadrilha estará de volta em breve, diz-se no crédito final. Ámen!

domingo, 18 de janeiro de 2009

ELA vem à Casa da Música! Bamos ao Puarto, canudo?



Notícia acabada de sair: Miss Polly Jean Harvey vem agraciar-nos com a sua presença no próximo dia 2 de Maio, na Casa da Música no Porto, com o compincha de já alguns anos, John Parish, apresentar o último "A Woman a Man Walked by" já de 2009. Diz que a sala é minúscula e os bilhetes são pouquíssimos. Grande scheisse. Aqui em Lisboa não se arranjava uma datazinha, catano?
Se a FNAC amanhã não tiver bilhete para mim dou um tiro em alguém...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Punky friday, 23 Jan




Alguém quer ir ao MusicBox comigo na próxima sexta-feira ver o documentário "Lisbon Calling"? A seguir há concerto de homenagem à banda do saudoso Joe Strummer, pelos Clash City Rockers, com Zé Pedro dos Xutos a acompanhar e, a partir das 2h da matina, música Punk/Rock até nascer o Sol.
Bilhete já devidamente FNACado por moi même: €8.
Alguém alinha? Não? Oh well, vou eu.

When they kick at your front door
How you gonna come?
With your hands on your head
Or on the trigger of your gun

When the law break in
How you gonna go?
Shot down on the pavement
Or waiting on death row

You can crush us
You can bruise us
But you'll have to answer to
Oh, the guns of Brixton

The money feels good
And your life you like it well
But surely your time will come
As in heaven, as in hell

You see, he feels like Ivan
Born under the Brixton sun
His game is called survivin'
At the end of the harder they come

You know it means no mercy
They caught him with a gun
No need for the Black Maria
Goodbye to the Brixton sun

You can crush us
You can bruise us
But you'll have to answer to
Oh, the guns of Brixton

When they kick at your front door
How you gonna come?
With your hands on your head
Or on the trigger of your gun

You can crush us
You can bruise us
And even shoot us
But oh-the guns of Brixton

Shot down on the pavement
Waiting in death row
His game was survivin'
As in heaven as in hell

You can crush us
You can bruise us
But you'll have to answer to
Oh, the guns of Brixton


[The Clash, "The Guns of Brixton", from "London Calling", 1979]

A visita dos homens azuis


Até que enfim os Blue Man Group e a sua Megastar World Tour passam por Portugal! Na impossibilidade de os ver quando estive em Berlim com as minhas três «chicas» há três meses atrás (o espectáculo já estava esgotado), os fabulosos homens azuis resolveram fazer uma série de espectáculos na capital portuguesa, mais concretamente de 21 a 29 de Março, no Auditório dos Oceanos do Casino de Lisboa.
Para quem ainda não os conhece, os Blue Man são três actores do Método, cujas actuações englobam teatro, música (muita batucada à mistura), comédia e dispositivos multimédia para criar um espectáculo único, cuja descrição e enquadramento não são fáceis. Como tal aqui fica um dos vídeos, de "The Complex" (o álbum/DVD anterior que incluía participações de Gavin Rossdale, Dave Matthews ou Tracy Bonham, entre outros), "Time to Start".
A esgotar, sem qualquer tipo de dúvida e é se não estiver já.
O lugar R14 no dia da estreia já é meu!

2008 em sons







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Muitos escolhem 10, 20 ou mais álbuns do ano e publicam as suas escolhas. Eu sou um bocado mais básica e como tempo é coisa que me escasseia até para as actividades mais quotidianas, como dormir e assim, limito-me a debitar uma meia dúzia ou pouco mais de álbuns que me marcaram no ano que passou, com um óbvio número um, "The Slip" dos Nine Inch Nails. Quanto aos outros, não consigo decidir a posição nesta espécie de top battle_axiano, por isso aqui vão sem qualquer ordem em especial:

1 - "The Slip", Nine Inch Nails (destacadíssimo, claro está). Acho que nem preciso de explicar porquê. Trent Reznor é Deus. Ponto final.

- "Ghosts I-IV", Nine Inch Nails. Pelo mesmo motivo do anterior.

- "Modern Guilt", Beck. Grande álbum do meu californiano loiro preferido, cuja crítica já tinha aqui postado. Ainda bem que o passado "Princesco" de "Midnight Vultures" está definitivamente morto e enterrado. "Guero" já era um álbum brutal e "The Information" também tem pontos muito altos ("Nausea" à cabeça), mas "Modern Guilt" é na mouche.

- "Death Magnetic", Metallica. Já aqui tinha feito a crítica aquando do seu lançamento. Os dois concertos a que tive oportunidade de assistir em 2008 destes Four Horsemen foram a prova de que eles estão aí para lavar e durar. A 31 de Maio deram um concerto nada menos que memorável no Getafe Electric Weekend, em Madrid e, 5 dias depois, repetiam a façanha no Rock in Rio, em Lisboa. Felizmente estive presente nos dois. Pena foi que, à data, "Death Magnetic" ainda não tivesse sido lançado e nenhum dos novos temas foi, por esse motivo, tocado. "Are you with Metallica?" repete sempre James Hetfield em todos os concertos lusos. Apetece dizer: Hell yeah!

- "Dig, Lazarus, Dig!", Nick Cave & The Bad Seeds. Grande álbum de regresso e um concerto a condizer, no passado mês de Abril no Coliseu dos Recreios. Piquei o ponto, claro está, e ficou-me na retina um dos melhores concertos do ano.

- "Saturnalia", The Gutter Twins. Mark Lanegan e Greg Dulli a lançarem o registo inicial de uma banda que se espera esteja para durar, ao contrário dos anteriores projectos de Dulli. À falta das habituais colaborações com os Queens of the Stone Age, «A voz» dá um ar de sua graça e mostra que há vida em Lanegan, ainda que os QOTSA não tenham lançado nenhum álbum este ano. "Saturnalia" está cheio de boas letras e foi o mote para um concerto no Santiago Alquimista já aqui por mim descrito no blog, no passado mês de Setembro. Dizer que foi muito bom é pouco.
Também de Mark Lanegan e Isobel Campbell surgiu-nos este ano "Sunday at Devil Dirt". Não é tanto o meu estilo, mas merece destaque.

- "Conquer", Soulfly. O regresso de Max Cavalera, que tive oportunidade de rever este ano também no Getafe Electric Weekend, mas com os Cavalera Conspiracy. O bilhete para o Coliseu para ouvir os novos temas a 16 de Fevereiro já está comprado há muito, agora é aguardar pelo furacão sonoro que se adivinha.

- "Canção ao Lado", Deolinda. Pelo divertido da coisa. É bem-dispostinho, regateiro q.b. e quem nunca encheu o peito a entoar «Movimento Perpétuo Associativo» nem esboçou um sorriso a ouvir «Fon Fon Fon» não é filho de boa gente.

- Desilusão do ano: "Day & Age", The Killers. Um álbum tão mau, mas tão mau que até dói. Para ouvir uma vez e esquecer bem depressa. Foi o que eu fiz. Se "Sam's Town" já era para lá de fraco (salvava-se "Read my mind" só), este consegue o difícil feito de ser ainda pior. O refrão do single de apresentação, "Humans", arrisca-se seriamente a ficar na história como um dos mais risíveis e estapafúrdios de sempre. "Are we humans or are we dancers?": amiguinhos, onde é que vocês estavam com a cabeça? Saudosos tempos os de "Hot Fuss". Nem o facto do paranóico (e Mórmon) Brandon Flowers ter um palminho de cara os salva. Para enterrar bem fundo no baú das aberrações de 2008. R.I.P.

Outros haveria, com certeza, mas, de momento, é o que me surge. Sou gaja para me lembrar daqui a bocado de mais uns quantos.
Reclamações e sugestões, como sempre, é aqui em baixo: largai vossas postas de pescada e dizei de vossa justiça.

sábado, 3 de janeiro de 2009

«A Loja dos Suicídios», de Jean Teulé


«A sua vida foi um fracasso? Connosco a sua morte será um sucesso!»
Casa Tuvache, há 10 gerações no suicídio


É este o slogan da Loja dos Suicídios, dos Tuvache, habitantes da Cidade das Religiões Esquecidas. A história passa-se num século indeterminado, mas em que as guitarras eléctricas são descritas como instrumentos musicais antigos, do século XXI e as compras são pagas em euros-ienes.
Lucrécia e Mishima, o casal Tuvache, tem três filhos, todos eles com nomes de suicidas famosos: Vincent (de Van Gogh), Marilyn (Monroe) e Alan (Turing), o mais novo, o raio de sol que se atreve a nascer e a revolucionar toda a filosofia negra da loja. Alan é o filho que os Tuvache não desejam, pelo seu optimismo e simpatia. Onde já se viu um bebé que tem o desplante de se rir numa loja onde as pessoas vão comprar material para se suicidar? Nenhum dos membros desta família alguma vez esboçou sequer um sorriso e, quando Alan resolve contrariar tal facto, atribuem o esgar infantil a cólicas.
Nesta loja é possível encontrar de tudo: desde cordas de cânhamo para enforcamentos, lâminas afiadas para cortar os pulsos, pistolas descartáveis só com uma bala, espadas de shaolin para cometer seppuku (e não hara kiri, como corrige o Sr. Tuvache), diversos tipos de veneno e até máscaras mortíferas.
A mãe Tuvache lê à noite aos filhos histórias sobre suicídios de personagens históricas , como Cleópatra, para os adormecer. Até a discoteca da Cidade das Religiões Esquecidas tem o nome de um suicida: Kurt Cobain. Quando, antes de adormecer, Marilyn pede à mãe para, quando for mais crescida, ir dançar para lá, a resposta da mãe é: «Mas claro que não. Como é que te passa pela cabeça que os homens queiram dançar com uma gorda como tu? Vá, bons pesadelos, sempre será mais inteligente.»
Apesar da indiferença a que é votado, Alan adora os pais e exaspera-os com os seus «Bons sonhos, mamã e papá!» antes de ir dormir, adora a irmã, que apesar da baixíssima auto-estima que possui considera a rapariga mais bonita que existe e idolatra o irmão, Vincent, um artista anoréctico ultra-deprimido, que usa ligaduras na cabeça, qual Frankenstein, para minorar as fortes cefaleias que sente e cujos dotes artísticos consistem em criar máscaras aterradoras e parques temáticos suicidas.
Quando Marilyn faz 18 anos e se transforma numa bela mulher, a prenda de maioridade dos pais é uma injecção de veneno que, após administrada, e apesar de não a afectar pessoalmente, transforma os seus beijos em armas mortíferas ("Death Kiss"), para que quem a beije caia morto no chão. Mas as coisas não correm bem como o previsto e a menina Tuvache apaixona-se mesmo, e, muito apropriadamente, pelo guarda do cemitério, Ernest.
A felicidade e o optimismo constantes de Alan são uma ameaça ao negócio de família dos Tuvache que, a dada altura e já de cabeça perdida em relação ao que fazer àquele miúdo rebelde que insistia em espalhar alegria por onde passava, resolvem mandá-lo para uma escola kamikaze no Mónaco, para fazer um estágio de comandos suicidas, ao que Alan responde:
«No Mónaco? Então faz calor. Vou levar também protector solar e calção de banho para quando formos à praia...».
No entanto, durante a ausência do benjamim da família, algo muda. De repente, toda a família lhe sente a falta e anseia pelo seu regresso, o que acaba por acontecer não muito depois, visto que Alan é, obviamente, expulso da escola por fazer os colegas rir.
Torna-se um extraordinário vendedor, mas, em vez de dar às pessoas corda para se enforcarem (literalmente falando), dá-lhes esperança. Ora vejamos o que diz a uma cliente desesperada:
«-Os meus colegas acham-me estúpida.
«-É porque não tem confiança em si mesma. Ora isso torna-nos desajeitados, faz-nos dizer coisas a despropósito. Mas se aprender a captar o reflexo desta máscara e a gostar dele... Olhe para ela, esta pessoa diante de si. Olhe bem. Não tenha vergonha dela. Se a encontrasse na rua, teria vontade de a matar? Que lhe fez ela para a odiar assim? Tem culpa de quê? Porque é que não gostariam dela? Basta que tenha a menina amizade por esta mulher para que os outros venham a seguir.»
E é assim que esta Loja dos Suicídios deixa de ter por fornecedor A Morte Não Me Lixa para passar a ser abastecida pela Rebentar a Rir, o que deixa o Sr. Mishima mortificado, passe a expressão.
O final é surpreendente, ainda assim, mas, verdade seja dita, a missão é inteiramente cumprida. Recomendadíssimo, se quiserem dar um chega pra lá em dias menos bons. E que melhor início para 2009?

(«A Loja dos Suicídios», T.O.: «Le Magasin des Suicides», Jean Teulé, Guerra e Paz Editores, 2008)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

"The Curious Case of Benjamin Button", by F. Scott Fitzgerald


E se, de repente, alguém resolvesse nascer ao contrário? Pegando na premissa de que em velhos voltamos a ser crianças, este é, na prática, o livro que a perverte. Confusos? Duvido. Afinal este é o recém-adaptado romance, chamemos-lhe antes "short story" por questões de exactidão, de Fitzgerald que David Fincher, ele de "Se7en, "O Jogo", "Clube de Combate" ou "Sala de Pânico", como se fosse preciso referi-lo, transpôs para o grande ecrã com a colaboração do seu já velho conhecido Brad Pitt no papel do protagonista. Ainda não vi o trailer do filme e, assim sendo, não vou obviamente opinar, mas diz-se por aí que o Sr. Jolie fez um figuraço e até se fala em nomeações para Oscar. Hollywoodices à parte, foquemo-nos no livro.
O próspero casal Button está grávido. Estava-se em 1860, em Baltimore e, ainda que fosse de bom tom nascer em casa, Benjamin vai nascer a uma maternidade. Só que, surpresa das surpresas, Benjamin não é uma criança como as outras. É uma criança com aspecto de idoso de 70 anos, de cabelo grisalho e longas barbas que aprecia o seu charuto cubano de vez em quando. Após o choque inicial da classe médica, dos habitantes de Baltimore, mas, sobretudo, do pai, Roger, que o rejeita liminarmente, Benjamin vai (de)crescendo ao longo dos anos. Encarado como uma aberração, entra para a creche com o aspecto de idoso com que nasce, tendo por único amigo o avô, cujo aspecto físico se assemelha ao seu. Aos 18 anos e com aspecto de 55 tenta ingressar como caloiro em Yale, mercê das boas notas obtidas, mas é ridicularizado e expulso da instituição como charlatão. Aos 20 anos e com aspecto de 50, começa a aproximar-se do pai, de quem parece irmão e é assim que casa com Hildegarde, uma jovem de 20 anos também, com quem tem um filho, Roscoe.
À medida que o tempo passa, Benjamin vai ficando cada vez mais jovem, chegando a parecer, inclusivé, 20 anos mais novo do que a mulher. Descontente com o envelhecimento de Hildegarde e com a pasmaceira da vida conjugal, alista-se no exército e combate na Guerra Hispano-Americana em 1898 com assinalável êxito. Torna-se tenente-coronel, ganha medalhas e regressa a casa e aos seus negócios. Quando atinge o aspecto de um jovem de 20 anos, cumpre o antigo sonho e matricula-se finalmente em Harvard onde domina nos primeiros dois anos do curso, não só a nível estudantil como desportivo. Até que, no terceiro ano, se dá mais um esperado rejuvenescimento que o leva a ter de abandonar a universidade por falta de capacidades cognitivas: Button tinha-se repentinamente transformado num adolescente de 16 anos e o seu aspecto físico não lhe permitia ir além do liceu. Tenta alistar-se de novo no exército, mas volta a ser ridicularizado, desta vez por ser demasiado novo. É agora o próprio filho quem dele cuida, como pai, que, relutantemente o acolhe.
E assim continua a narrativa, até Benjamin voltar a ser bebé de colo, mais novo até que o seu próprio neto.
A ler (recomendo eu) antes da estreia do filme, que saiu no dia de Natal nos EUA, nem que seja para ver até que ponto Fincher respeitou o original. A estreia em Portugal está agendada para dia 15 de Janeiro, e, pelas leituras que fiz até agora sobre o filme, muito pouco da obra de Fitzgerald se mantém nesta adaptação deveras livre da obra. Aguardo com bastante curiosidade e algum receio.

"The past - the wild charge at the head of his men up San Juan Hill; the first years of his marriage when he worked late into the summer dusk down in the busy city for young Hildegarde whom he loved; the days before that when he sat smoking far into the night in the gloomy old Button house on Monroe Street with his grandfather - all these had faded like unsubstantial dreams from his mind as though they had never been".

("The Curious Case of Benjamin Button", F. Scott Fitzgerald, Penguin Books, ed. 2008)