sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
"The Curious Case of Benjamin Button", by F. Scott Fitzgerald
E se, de repente, alguém resolvesse nascer ao contrário? Pegando na premissa de que em velhos voltamos a ser crianças, este é, na prática, o livro que a perverte. Confusos? Duvido. Afinal este é o recém-adaptado romance, chamemos-lhe antes "short story" por questões de exactidão, de Fitzgerald que David Fincher, ele de "Se7en, "O Jogo", "Clube de Combate" ou "Sala de Pânico", como se fosse preciso referi-lo, transpôs para o grande ecrã com a colaboração do seu já velho conhecido Brad Pitt no papel do protagonista. Ainda não vi o trailer do filme e, assim sendo, não vou obviamente opinar, mas diz-se por aí que o Sr. Jolie fez um figuraço e até se fala em nomeações para Oscar. Hollywoodices à parte, foquemo-nos no livro.
O próspero casal Button está grávido. Estava-se em 1860, em Baltimore e, ainda que fosse de bom tom nascer em casa, Benjamin vai nascer a uma maternidade. Só que, surpresa das surpresas, Benjamin não é uma criança como as outras. É uma criança com aspecto de idoso de 70 anos, de cabelo grisalho e longas barbas que aprecia o seu charuto cubano de vez em quando. Após o choque inicial da classe médica, dos habitantes de Baltimore, mas, sobretudo, do pai, Roger, que o rejeita liminarmente, Benjamin vai (de)crescendo ao longo dos anos. Encarado como uma aberração, entra para a creche com o aspecto de idoso com que nasce, tendo por único amigo o avô, cujo aspecto físico se assemelha ao seu. Aos 18 anos e com aspecto de 55 tenta ingressar como caloiro em Yale, mercê das boas notas obtidas, mas é ridicularizado e expulso da instituição como charlatão. Aos 20 anos e com aspecto de 50, começa a aproximar-se do pai, de quem parece irmão e é assim que casa com Hildegarde, uma jovem de 20 anos também, com quem tem um filho, Roscoe.
À medida que o tempo passa, Benjamin vai ficando cada vez mais jovem, chegando a parecer, inclusivé, 20 anos mais novo do que a mulher. Descontente com o envelhecimento de Hildegarde e com a pasmaceira da vida conjugal, alista-se no exército e combate na Guerra Hispano-Americana em 1898 com assinalável êxito. Torna-se tenente-coronel, ganha medalhas e regressa a casa e aos seus negócios. Quando atinge o aspecto de um jovem de 20 anos, cumpre o antigo sonho e matricula-se finalmente em Harvard onde domina nos primeiros dois anos do curso, não só a nível estudantil como desportivo. Até que, no terceiro ano, se dá mais um esperado rejuvenescimento que o leva a ter de abandonar a universidade por falta de capacidades cognitivas: Button tinha-se repentinamente transformado num adolescente de 16 anos e o seu aspecto físico não lhe permitia ir além do liceu. Tenta alistar-se de novo no exército, mas volta a ser ridicularizado, desta vez por ser demasiado novo. É agora o próprio filho quem dele cuida, como pai, que, relutantemente o acolhe.
E assim continua a narrativa, até Benjamin voltar a ser bebé de colo, mais novo até que o seu próprio neto.
A ler (recomendo eu) antes da estreia do filme, que saiu no dia de Natal nos EUA, nem que seja para ver até que ponto Fincher respeitou o original. A estreia em Portugal está agendada para dia 15 de Janeiro, e, pelas leituras que fiz até agora sobre o filme, muito pouco da obra de Fitzgerald se mantém nesta adaptação deveras livre da obra. Aguardo com bastante curiosidade e algum receio.
"The past - the wild charge at the head of his men up San Juan Hill; the first years of his marriage when he worked late into the summer dusk down in the busy city for young Hildegarde whom he loved; the days before that when he sat smoking far into the night in the gloomy old Button house on Monroe Street with his grandfather - all these had faded like unsubstantial dreams from his mind as though they had never been".
("The Curious Case of Benjamin Button", F. Scott Fitzgerald, Penguin Books, ed. 2008)
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