sábado, 17 de julho de 2010

Alive 2010 em texto e imagens


Vai ser difícil superar o Alive deste ano: pelo cartaz, que era, sem dúvidas de qualquer espécie, o mais forte a nível nacional, pela quantidade de excelentes concertos a acontecer todos os dias (muitas vezes à mesma hora, o que se lamenta) e, pessoalmente, porque depois de 8 meses seguidos sem um único dia de férias, estes três dias sem ir trabalhar e a fazer o que mais gosto (festivalar) souberam que nem ginjas.
Já se adivinhava que, face à fraca concorrência de Paredes de Coura e Sudoeste, com cartazes bem mais pobres que o habitual, este seria o ano do Alive em termos de invasão estrangeira, maioritariamente espanhola. Os incautos portugueses que deixaram a compra do passe de 3 dias ou para dia 10 para a última hora, convencidos de que «festivais não esgotam» tiveram a desagradável surpresa de voltar da FNAC de mãos a abanar e contentar-se em ir só a dois dias de festival. Tal não foi, felizmente, o meu caso, que já tinha o meu passe desde o início do ano.
A entrada no recinto no primeiro dia previa-se demorada e foi-o. Ainda que as entradas estivessem divididas por tipo de bilhete, ideia que se saúda, isso não significou menos horas ao sol à espera para entrar. Ainda bem que cheguei cedo.
A minha tarde iniciou-se no palco Super Bock Super Rock, ou secundário, como preferirem, a ver Local Natives, às 17h. Uma hora depois, os The Drums subiam ao mesmo palco. No palco principal tocariam, minutos depois, os Biffy Clyro, que já vi algumas 2 ou 3 vezes, nas primeiras partes dos Queens of the Stone Age em Madrid e Barcelona, daí o meu desinteresse em ir vê-los de novo. Preferi, em vez disso, esperar pelo concerto de Devendra Banhart no palco SBSR. Em boa hora o fiz, porque valeu bem a pena. De calções e t-shirt, longe dos desvarios de guarda-roupa que lhe estão associados, Devendra deu um espectáculo extremamente competente e divertido, ao incluir uma versão de "Tell it to my heart", de Taylor Dayne, que todos conhecíamos dos 80's e cantarolámos, sem, no entanto, percebermos porque é que ainda nos lembramos da letra daquilo (talvez de alguma noite de sábado no "Plateau", em que estivéssemos demasiadamente alcoolizados e longe de sítios mais porreiros para ir a outro lado).
Era chegada a hora de uma escolha difícil: no palco SBSR, Florence and the Machine. À mesma hora, mas no palco principal, Alice In Chains. Pesei os prós e os contras: já tinha visto Alice in Chains no SBSR de 2006. Foi giro e tal, mas não consigo lidar bem com bandas cujo vocalista morre e é substituído por outro com a voz igual. Lamento. Só conhecia para aí umas duas canções de Florence Welch e respectiva banda, mas nunca os tinha visto. Ia meio de pé atrás, porque geralmente desconfio bastante dos "hypes" do ano, das bandazecas de freaks que aparecem de repente e que passados seis meses já ninguém se lembra delas, geralmente endeusadas por publicações como a Blitz, mas resolvi dar-lhes o benefício da dúvida. Optei pela novidade em detrimento do regresso à adolescência e não me arrependi nem um pouco. Mas que concerto! Que vozeirão! Gostei muito do que vi e, arrisco dizer, soou ainda melhor do que em disco (sim, porque depois do concerto fui ouvir "Lungs" na íntegra várias vezes). Uma óptima surpresa que não esperava. Para não dizer que não via nada da performance da banda de Jerry Cantrell, fui ver só 3 ou 4 músicas dos Alice In Chains, mas depressa regressei ao palco SBSR para guardar lugar para o concerto dos The XX, que se previa iria estar a abarrotar e não me enganei. Quem chegou apenas minutos depois de mim, dificilmente terá conseguido entrar na tenda, tal não era o aglomerado de gente. A dada altura, um dos vocalistas, divertido e impressionado com o volume do coro do público, que quase abafava o som de palco, revelou que nunca ouvira um coro tão alto. Não valerá a pena estar aqui a indicar o alinhamento tocado, pois a banda só tem um álbum, mas foi muito divertida a inclusão de um sample de guitarra de ATB, um DJ alemão para lá de chunga, com um sucesso dos 90's, a meio de uma música.
Acabado o portentoso concerto dos XX, havia que retemperar forças para ir ver Faith No More o mais à frente do palco possível, já que a banda que os antecedeu, os Kasabian, não são santos da minha devoção.
Às 00:30, os acordes de "Midnight Cowboy" dão início ao que era o concerto mais aguardado da noite. Mike Patton e C.ª, na segunda passagem pelo nosso país da "Second Coming Tour", que já passara pelo Sudoeste no ano passado, de fatinho bege vestido (tal como no Sudoeste), abre as hostilidades. Seguem-se "From Out of Nowhere", "Be Aggressive", "The Real Thing", "Evidence" (em Português, como tem sido habitual), "As the Worm Turns", "Last Cup of Sorrow", "Cuckoo for Caca", "Easy" (a versão dos Commodores, de Lionel Ritchie), "Midlife Crisis" (com o refrão a ser berrado pela multidão em delírio, eu incluída, claro está) e "The Gentle Art of Making Enemies". Mais ou menos por esta altura Mr. Patton resolve vir confraternizar com o público e, ao ser levado em ombros, leva uns apalpões, ao mesmo tempo que perde um sapato. No regresso ao palco, grita: "Mal-educados!", "Bestias!". Quem anda à chuva, molha-se: estava à espera de quê, ao atirar-se para o meio da selvajaria? Tudo resolvido, continua-se com "Ashes to Ashes", "Ben" (uma versão dos Jackson 5), "King for a day", "Epic" e "Just a Man". Terminava assim o alinhamento, mas ainda faltavam dois encores: o primeiro incluiu "Stripsearch", com a já habitual entrada de Vangelis, e "Surprise, you're Dead!". O segundo encore teve apenas um tema: "Caralho Voador".
Faltou uma ou outra canção que queria mesmo ouvir ("Ugly in the Morning" ou "A Small Victory", só para referir algumas), e achei o concerto do Sudoeste ainda melhor do que este, mas foi, sem dúvida um grande, grande concerto.
O segundo dia adivinha-se bastante mais fraco e, em termos de público, a diferença sentiu-se bem.
Mais uma vez, passei a maior parte do dia no palco secundário, começando com os Holy Ghost! (não fui ver os Hurts, porque estava mais interessada em ir comprar a t-shirt dos Faith no More à barraca de merchandising), The Maccabees, depois disso um breve salto ao palco principal para ver algumas músicas de Mão Morta, novo regresso ao palco SBSR para ver The Gossip e deparo-me com a maior enchente e confusão que alguma vez vi e senti no Alive. Não foi nada fácil aguentar-me no sítio onde estava, sem ser constantemente empurrada por espanhóis bastante chatos em delírio, mas lá consegui amarrar os pés ao chão e não me mover um milímetro que fosse para conseguir ver o concerto de Beth Ditto e amigos. O início foi logo para partir tudo, com "Standing in the Way of Control". A voz possante de Ditto ainda passou por várias versões alheias como "Psychokiller", dos Talking Heads (e fui muito feliz durante esses segundos), "One More Time", dos Daft Punk, "What's Love Got to do with it?", de Tina Turner e ainda "I will always love you", de Whitney Houston, em jeito de piada. Para o final estava guardado o single "Heavy Cross" e a invasão de palco, pedida pela banda. Beth Ditto é a maior e não estou a referir-me à piada óbvia do perímetro abdominal da senhora, mas sim à sua capacidade vocal e simpatia. É um amor e desfaz-se em elogios à plateia que a vê, em êxtase. Voltem depressa, por favor, mas em nome próprio, de preferência.
À conta dos Gossip não pude ir ver Manic Street Preachers, que, infelizmente, nunca vi, mas terá de ficar para uma próxima. As sobreposições de concertos bons no Alive foram dos aspectos que mais me chateou.
Abomino Skunk Anansie, por isso ir vê-los estava completamente fora de questão. Em vez disso, fui descansar as pernas e encher o estômago para ter energia em Deftones, o concerto que mais aguardava nesse dia.
Já vi Deftones três vezes, mas acho que este concerto no Alive é, até agora, o meu preferido.
E que entrada em palco! "Headup" a dar o mote e o início a um concerto em que devo ter perdido um quilo só com os pulos que dei. Seguiram-se "My Own Summer (Shove It) (este tema é bom demais para ser verdade), "Diamond Eyes", "Rocket Skates" e "CMND/CTRL", "Sextape", "Feiticeira", "Knife Party", "Elite" (uma das canções em que mais gramas devo ter perdido. Love it!), "You've seen the Butcher", "Minerva", "Birthmark", "Root" e "Beauty School". A meio do concerto, Chino Moreno confessa que o atraso da banda se prendeu com o facto de o voo chegar, também ele, atrasado e de terem, inclusivé sobrevoado o recinto. Apesar da chegada já tardia e da falta de tempo para pormenores de última hora, como a troca de roupa (só assim se compreende que Moreno tenha actuado de camiseiro), o concerto da banda foi fenomenal e de uma energia improvável, para quem só teve meia hora para abandonar o avião e colocar-se em palco.
Seguiram-se mais duas das minhas preferidas de sempre dos Deftones, "Be quiet and drive (far away) e "Around the Fur", do álbum homónimo, cujas músicas, por gostar de todas, costumo dizer que poderiam todas dar singles. "Lotion", "Prince", "Change (in the House of Flies), "Passenger" (amo esta música, mesmo que, para minha tristeza, não possa ser cantada ao vivo com Maynard James Keenan), "Back to School" (do mesmíssimo "White Pony") e, a finalizar em grande, o regresso ao primeiro álbum da banda, com "7 Words". Sem direito a encore, que a noite já ia longa. As dores nas pernas eram muitas e o cansaço também, mas saí deste segundo dia do Alive de alma lavada.
O terceiro e último dia do festival foi o único em que não fui ao palco SBSR. No único dia isolado em que os bilhetes esgotaram, a confusão era muita e a multidão demasiada. Tudo para ver Pearl Jam, dizia-se. Pois, talvez, mas não era esse o meu caso. Estava mesmo ali era por Gomez, Gogol Bordello, LCD Soundsystem e o nosso Paulo Furtado, o Tigerman de serviço.
Às 18:30 a concentração de público para ver Gomez era muito maior do que eu suporia. O início deu-se ao som de "Get Miles", de "Bring it on", o álbum de 1998, que lhes valeu um Mercury Prize, o reconhecimento mundial e chamou a minha atenção, nesse longínquo ano em que entrei para a faculdade e os ouvia com muito prazer, ainda que, por norma, me dedicasse (e dedique ainda) a sonoridades bem mais pesadas. "How We Operate" (do álbum homónimo) fechou com chave de outro a actuação da banda britânica, neste que é o meu tema preferido dos Gomez.
Apesar de não conhecer muito bem, fiquei para ver os Dropkick Murphys e foi bastante engraçado, ainda que não muito o meu estilo.
Mas eis que chega Eugene Hütz em seguida, e os seus Gogol Bordello, e começa a festa a sério! Isto sim foi pular e bater o pezinho, ao som da ciganada punk mais divertida do mundo, sempre de garrafita de vinho na mão, para não perder o embalo. Siga a dança!
Já sei que vou ser crucificada pelo que vou dizer em seguida, mas o blog é meu, por isso digo o que me apetecer, tenham lá paciência.
Não aprecio Pearl Jam. Gostava de os ouvir quando tinha 14, 15 aninhos, mas deixei-me definitivamente disso quando acabei o secundário, aos 17 anos. Entretanto passaram-se 12 anos, já levo 29 nas costas e a minha opinião não mudou. O último álbum que ouvi deles foi "Yield", de 1998 e foi aí que desisti deles.
Hoje em dia não consigo ouvi-los, até porque, como qualquer pessoa no seu juízo perfeito, não tenho grande vontade de recordar a adolescência.
Fui, em vez disso, ver o nosso Legendary Tigerman e convidadas de "Femina" e não quis saber da actuação da banda de Eddie Vedder para nada, ainda que faça uma profunda vénia a Matt Cameron, agora baterista dos Pearl Jam, na minha opinião um dos melhores bateristas do mundo, pois fez parte dos Soundgarden (essa sim, «A» banda grunge e a melhor de todos os tempos, para mim). Continuo a achar que Cameron está claramente subaproveitado nos Pearl Jam, porque as músicas não puxam pelas suas reais capacidades, o que é uma pena.
Vi ainda um bom bocado de Tigerman no palco Optimus Discos (que trouxe consigo Becky Lee, Lisa Kekaula, Maria de Medeiros, Cibelle, Cláudia Efe, Rita Redshoes, Peaches, Phoebe Killdeer e Mafalda Nascimento. Só Asia Argento não pôde estar presente, devido a ter ficado retida em Florença e foi substituída por ela própria, mas em ecrã.), que deu, como de costume, um excelente concerto e, no fim, quando toda a gente já estava a ver Pearl Jam no palco principal, fui sentar-me, descansar as pernas, aproveitar a falta de filas em todo o lado, já que estava tudo a vê-los (e ainda bem, deu-me um jeitão!) e ganhar fôlego para LCD Soundsystem. Aí a 45 minutos do fim, lá fui ver um bocadinho do concerto, de maneira a marcar lugar para a banda de James Murphy, que encerraria o festival.
Parece que este foi o último concerto de Pearl Jam em muito tempo, a banda gosta muito de Portugal, o público português é o melhor do mundo, a bandeira portuguesa às costas no final do concerto, yada, yada, yada... o costume. Não há pachorra, desculpem lá. Com todo o respeito, mas o meu natural cinismo não me deixou no rosto a emoção que vi estampada nas caras das outras pessoas: algumas estavam mesmo a chorar. Sou um calhau, temos pena. Quero lá bem saber se eles voltam a vir cá tocar ou não.
A debandada a seguir ao concerto de Pearl Jam foi grande, o que, mais uma vez, deu-me um jeitão. Consegui, por esse motivo, aproximar-me das filas da frente e ver LCD Soundsystem em posição mais do que privilegiada.
A actuação foi curta, apenas 1 hora e 5 minutos, mas enérgica a rodos.
"Us vs. Them", "Drunk Girls", "Pow Pow", "Daft Punk is playing at my house", o belíssimo "All My Friends", "I Can Change", "Tribulations" (a desatar, definitivamente, as cordas dos pés e a pôr tudo a dançar à louca), "Movement" e, por fim, "Yeah".
Sem encores e sem espinhas, que a festa era mesmo para acabar aqui.

Pontos negativos: As filas de espera para troca de bilhete por pulseira no primeiro dia do festival. A sobreposição de tantos e tão bons concertos, o que me obrigou a fazer escolhas muito difíceis. A aproximação de horários de muitas das bandas que queria ver, o que me fez andar constantemente a correr de um palco para o outro, qual maratona da EDP.
Pôr The Gossip, The XX e Florence and the Machine no palco secundário foi mais uma das ideias de jerico da organização. A Everything is New não aprende mesmo! Chegou a estar mais gente na diminuta tenda do palco secundário do que no palco principal (casos de The Gossip vs. Manic Street Preachers e Florence and the Machine, seguido de The XX vs. Alice in Chains), o que se calhar quererá dizer alguma coisa, digo eu.
O Alive foi o festival do mini-calção. A quantidade de meninas em calções do tamanho de cuecas por metro quadrado fez-me, por momentos, pensar que estaria na praia e ninguém me tinha avisado. Era vê-las, horas mais tarde, a tiritar, geladas de frio e embrulhadas em cobertores da Cruz Vermelha. Mostrar o corpo, nada contra, mas aprendam, de uma vez por todas, a vestir-se convenientemente para um festival, que até é à beira-rio. A burrice paga-se cara.

Pontos positivos: Foi, sem sombra de dúvidas, o melhor festival nacional e o melhor cartaz de sempre do Alive. Estive presente em todas as 4 edições deste festival, mas esta é, até agora, a melhor de todas. Manter o nível vai ser, no mínimo, um desafio para a Everything is New. Boa sorte!
As boas surpresas: Florence and the Machine e Devendra Banhart, assim à cabeça, duas das actuações que me fizeram passar a maior parte do festival no palco secundário, sem que nada o fizesse prever antes.
A quantidade quase absurda de bons concertos para ver foi de tal forma que no domingo mal me podia mexer.

"Are you Alive?", lia-se nas t-shirts e cartazes que povoavam o recinto.
Yes, but barely, respondo eu.