sábado, 26 de setembro de 2009

Muse - "The Resistance"


Quando eu achava que o ano de 2009 já não podia trazer mais grandes surpresas negativas a nível musical, uma vez que estamos a pouco mais de três meses do fim do ano, eis que chegam os Muse para me dar um valente chapadão. Achava, erradamente, que Chris Cornell e o seu "Scream" já tinham sido a desilusão do ano e que dificilmente banda alguma chegaria lá perto. Ora bem, dou a mão à palmatória: os Muse conseguiram-no.
MAS O QUE É ESTA MERDA??? Que raio de drogas é que esta malta anda a tomar?
"The Resistance" até nem começa muito mal, com o single "Uprising": agora percebo porque foi esta música a escolhida para single. É a única que se aproveita, nesta verdadeira manta de retalhos que é o novo álbum da banda de Matthew Bellamy e, assim, sempre engana o público que pensa que aí vem um regresso à boa forma dos Muse e vai a correr comprar o disco para, minutos depois, se aperceber do tremendo disparate que acabou de fazer e resolve usá-lo como base para copos ou coisa que o valha. "Uprising" dá a sensação de ser uma das sobras do anterior "Black Holes and Revelations" e ninguém me convence, até prova em contrário, que não o é de facto. Ora isso não é, na minha opinião, lá muito bom sinal. "Black Holes and Revelations", apesar de alguns bons momentos, já vinha pejado de inanidades musicais (estilo "Starlight", essa baladinha da treta feita a pensar na Geração Morangos, com certeza) e deu início à espiral descendente da banda que, neste álbum, desce ainda mais em direcção à perfeita irrelevância.
Dói dizer isto dos Muse, mas não consigo gostar deste "The Resistance". A inspiração em "1984" de George Orwell tudo bem, é um bom livro sim senhor, se bem que "Black Holes and Revelations" já viesse carregadinho de politicismo e de críticas a Tony Blair e Bush, líderes governamentais na altura, em 2006. Para quê, então, insistir na temática? Obama e Gordon Brown são políticos radicalmente diferentes dos atrás referidos, não me parece que faça grande sentido insistir na tese da falta de liberdade e mania da perseguição. Mas politiquices à parte, passemos à música:
"Resistance" dá então início à parte má do álbum, ou seja, a tudo o resto que não é "Uprising", com um refrão ridículo:
(It could be wrong, could be wrong)
But it should've been right
Let our hearts ignite
Are we digging a hole?
This is outta control."
O refrão mais idiota dos últimos tempos é o de "Human", dos The Killers, tal como já tive oportunidade de dizer aqui no ano passado, mas este dos Muse arrisca-se perigosamente a ser «O» refrão idiota de 2009, tal como o dos Killers o foi em 2008.
"Undisclosed Desires" tem um início muito Depeche Modesco, como disse alguém, mas a música é outra asneira pegada.
E chegamos à maior colagem a Queen que alguma vez ouvi, "United States of Eurasia", cuja inspiração mais que óbvia no país ficcional criado por Orwell é evidente. Heresia das grandes: nunca gostei de Queen (vá, batam-me) e esta música não tem pés nem cabeça, ao misturar Queen, pedaços de música dos Nocturnos de Chopin e, a espaços, mas só às vezes, Muse. O resultado não é mesmo nada bom.
"Guiding Light" é mais uma música evitável (era necessário dizê-lo?), o épico perfeitinho para isqueiro em concerto de pavilhão.
"Unnatural Selection" até poderia ser uma boa música se não fosse uma colagem a... Muse! Ouçam o solo de guitarra e apontem as diferenças entre este e o solo de "New Born". Encontraram? Pois é, não as há...
"MK Ultra", mais uma faixa que nada acrescenta e com uns riffs de guitarra a soarem também a "New Born", o que em duas canções seguidas é de lamentar. Será que o poço da criatividade secou?
"I belong to you (Mon coeur s'ouvre à ta voix)" é Matthew Bellamy a brincar ao R&B, com música clássica pelo meio, mais uma vez. Estranho demais para o conseguir classificar, excepto se for de «mau».
E chegamos ao fim, com as três sinfonias "Exogenesis - Pt.1, Pt.2 e Pt.3", ou, como se diria na minha terra, uma cagada em três actos, literalmente falando.
A sensação que tenho é que os Muse resolveram pegar no requentado do que já fizeram, atiraram para lá Queen, R&B e música clássica, para soar menos abandalhado e cá vai alho.
Dá vontade de lhes dizer: acordem do coma cerebral e criativo e voltem a fazer música, se nos fazem esse favor.
Este "The Resistance" vai direitinho para o top das desilusões do ano, logo atrás de "Scream" de Chris Cornell, cujo primeiro lugar é indiscutível.
Se for isto que o (esgotadíssimo) concerto de dia 29 de Novembro nos reserva vamos ter chatices. Não paguei para isto!
E agora com licença, que vou ali limpar os ouvidos com "Origin of Symmmetry", dos gloriosos tempos em que os Muse eram mesmo bons nisto.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

«A Filosofia com Humor. Um Percurso pela História do Pensamento nos Ditos dos Grandes Filósofos» - Pedro González Calero


«Quando um solteiro consultou Sócrates [N.E.:o filósofo, não o nosso 1.º, obviamente. Estamos em campanha eleitoral, mas não exageremos, sim? O Hollow não se mete cá nessas vidas.] sobre o que fazer, se haveria de se casar ou de permanecer solteiro, Sócrates aconselhou-o:
- Faças o que fizeres, vais arrepender-te.»
[...]
«Quando um mercador abastado pediu a Aristipo que se encarregasse da educação do seu filho, este pediu-lhe como pagamento 500 dracmas, uma quantia que pareceu ao outro exagerada.
- Por esse dinheiro podia comprar um bom burro - disse-lhe.
E Aristipo respondeu:
- Podes fazê-lo: assim ficas com dois burros em casa.»
[...]
«Aristipo dispôs que na lápide do seu sepulcro se gravasse a seguinte inscrição:
Aqui repousa quem vos aguarda.»
[...}
«Numa festa a que assistia, alguém lhe disse:
- Porque não nos cantas algo, Antístenes?
E ele replicou:
- E tu, porque não me tocas a flauta?»
[...]
«Segundo a lenda, Alexandre Magno tinha ouvido falar de Diógenes e admirava-o muito. Um dia, apresentou-se perante ele e disse:
- Eu sou Alexandre, o grande rei.
- Pois eu sou Diógenes, o grande cão.
Quando Alexandre lhe perguntou por que razão lhe chamavam assim, Diógenes respondeu:
- Porque adulo os que dão, ladro aos que não dão e mordo aos que são maus.
Parece que Alexandre ficou impressionado com Diógenes e lhe disse que poderia pedir o que quisesse, que ele lho concederia.
E Diógenes pediu-lhe:
- O que quero é que te afastes, porque me estás a tapar o sol.»
[...]
«Ao saber que um tal Dídimo (tradução: testículo) fora surpreendido em adultério, sentenciou [Diógenes]:
- Dídimo merece ser tratado pelo nome.»
[...]
«A uma pessoa que ia atrás dele e lhe acertou sem querer com uma tábua que transportava e lhe disse: Cuidado!, Diógenes retorquiu:
- Porquê? Vais dar-me outra vez com ela?»
[...]
Diógenes foi feito prisioneiro e posto à venda como escravo. Quando o pregoeiro lhe perguntou o que sabia fazer: ele respondeu:
- Sei mandar. Vê se alguém quer comprar um amo.
[...]
«Metelo Nepote, um aristocrata que desprezava Cícero pela sua origem plebeia, perguntou-lhe repetidamente durante um debate:
- Mas tu, quem crês tu que és? Quem era o teu pai?
E Cícero respondeu-lhe:
Por culpa da tua mãe, essa pergunta é difícil de responder.»

Ora cá está um livro que ando a ler há mais tempo do que tenho coragem de admitir (falta de tempo, sempre essa malvada), divertidíssimo e merecedor de uma passagem pela FNAC, para quem se interessar pelo assunto e que, tal como eu, odiava as aulas de Filosofia do secundário, ainda que tenha interesse pelo assunto. Fossem todos os professores de Filosofia assim e as coisas teriam corrido bem melhor.


A Filosofia com Humor. Um Percurso pela História do Pensamento nos Ditos dos Grandes Filósofos, Pedro González Calero, Planeta Manuscrito, 2009.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Inglourious Basterds" - «Sacanas Sem Lei»



Num fim-de-semana bem activo e cheio de valentes gargalhadas, não podia faltar-me ir ver o novo de Quentin Tarantino, «Sacanas Sem Lei». Já estreou há 15 dias e já toda a gente o viu, mas, como gaja extremamente ocupada que sou, ainda não tinha tido tempo de o fazer.
O protagonismo do filme é, como já todos saberão, roubadíssimo a Brad Pitt: não que o Sr. Jolie não esteja em grande nível, mas Christoph Waltz, um desconhecido actor televisivo austríaco, é quem mais brilha na história, no papel do Coronel das SS Hans Landa, um detective perseguidor de judeus cujo raro talento no seu métier o torna o mais eficiente de todos os assassinos a mando de Hitler. Waltz é arrasador e assim se compreende a Palma de Ouro de Cannes que ganhou: de assinalar que interpreta o filme em alemão, inglês, francês e italiano! Notável.
É Landa quem marcará para sempre a vida de Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent), jovem judia francesa que, em cativeiro, vê toda a família ser assassinada pelas tropas do coronel. Sobrevive e parte para Paris, onde toma conta de um cinema e, por um acaso do destino, acaba por ter a oportunidade perfeita para perpretar a sua vingança.
O tenente Aldo Raine (Pitt) é um judeu americano semi-apache cuja missão é formar uma tropa de elite de origem judaica para matar nazis.
Bridget von Hammersmarck é uma actriz alemã de sucesso e espia ao serviço dos aliados britânicos, cuja ajuda acaba por se transformar em pesadelo tanto para os «Sacanas» como para ela própria. Desgraçadamente, existem três planos para assassinar Hitler e acabar com a II Guerra e todos eles convergem para o mesmo sítio: o cinema de Shosanna, sob o alter-ego Emanuelle Mimieux.
Muito sangue, muitos escalpes cortados, muitas suásticas marcadas e muito riso é o que espera quem ainda não viu estes «Sacanas».
A banda sonora é, também ela, muito recomendável, como não poderia deixar de ser num Tarantino (com Enio Morricone a assinar a maioria das canções que o realizador escolheu). Nota 10 para "Cat People (Putting out the fire)" de David Bowie, naquela que é, para mim, a cena mais forte do filme (pelo título da música, quem viu o filme saberá facilmente identificar). Brilhante música para uma não menos brilhante cena.
Obrigatório, escusado será dizer.

«Correr de Saltos Altos»



Eis um blog feminino com graça (e que difícil é sê-lo), sem ser obcecado com aquilo com que somos constantemente conotadas e sem pretensões de feminismo vazio. O «Correr de Saltos Altos» nasceu na semana passada pela pena de três queridas colegas cujo nome não interessa para nada, tal como o meu, e com o grafismo sempre brilhante da minha fotógrafa preferida (juntamente com a Miss I Am Free e a R.D., claro está!).
Sejam muito bem-vindas à blogosfera nacional e o maior sucesso a todas!
Se me permitem o atrevimento, linkei-vos aqui neste meu bloguito. I hope you don't mind...

www.correrdesaltosaltos.blogspot.com

domingo, 20 de setembro de 2009

"Caveman" @ Teatro Armando Cortez, Lisboa



Qual é a diferença entre homens e mulheres? Alguém sabe responder a esta pergunta numa só frase? Eu nem me atrevo. Mas a resposta é muito simples e algo Neandertal: «Mim caçar, tu colher», ou seja, os homens são feitos para caçar, competir e as mulheres para recolher, para ordenar. A própria anatomia do órgão sexual de cada um o indica, o que não deixa de ser um pensamento com alguma graça.
A peça, de Rob Becker, brilhantemente interpretada por Jorge Mourato, é de rir até cair da cadeira abaixo e rebolar pelo chão. A curta (segunda) temporada de exibição terminou hoje, no Teatro Armando Cortez e eu tive a sorte de, ao contrário da primeira temporada, em que foi impossível vê-la, visto que estava sempre esgotada, vê-la ontem, sábado à noite, em óptima companhia. Dois dos membros acompanhantes de ontem são casados e foi muito engraçado assistir às reacções de ambos sempre que se identificavam com as situações narradas por Jorge Mourato. Convém referir que a peça é um monólogo, o que eleva ainda mais a fasquia para o actor: captar a empatia de um público sozinho em palco não deve ser mesmo nada fácil, mas, verdade seja dita, o resultado foi perfeito.
Porque é que os homens usam cerca de 2000 palavras por dia e as mulheres 7000? Porque é que os homens conseguem conviver uns com os outros sem nada dizer e as mulheres precisam de falar tanto umas com as outras? Porque é que o silêncio masculino é interpretado pelas mulheres como sinal de zanga? E porque é que, não o sendo, a situação contrária o é?
Os anos 80 foram os anos em que aos homens se pediu que fossem sensíveis, nos 90, independentemente do que fizessem, eram sempre uns sacanas. E hoje, em 2009? O que se espera dos homens? A resposta é, mais uma vez, difícil, mas as sugestões são disparadas à velocidade de um homem em fúria por ter sido expulso (momentaneamente) de casa pela mulher, com os respectivos pertences a serem atirados furiosamente pela janela, que o acusa de agir como um «homem das cavernas».
«Sacanas», nós? - parece dizer Mourato. Tudo seria tão mais simples se as mulheres dissessem o que querem, sem rodeios, porque são esses rodeios que dão cabo da cabeça aos maridos/namorados.
Como menina que sou, é algo curioso identificar-me por vezes com o pensamento masculino. Não há nada mais irritante do que perguntar a uma mulher visivelmente abalada o que se passa e a resposta ser um seco : «nada».
Os homens não conseguem fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo (1-0 para nós), quando se perdem na estrada não são capazes de ter a humildade de parar para perguntar o caminho (2-0), não conseguem ter o rádio do carro ligado quando erraram o caminho porque desconcentra (3-0) e a ideia deles de ir às compras consiste em usar uma roupa até à exaustão, deitá-la fora e substituí-la por uma igual ou muito semelhante (4-0). Mas e nós, mulheres, saberíamos viver sem isso?
«Eu não sou um sacana!», grita a personagem principal no final da peça. Pois com certeza. Nem nós!

(Façam um enorme favor a vós próprios e vão ver esta peça, caso a temporada de exibição seja alargada.)

sábado, 12 de setembro de 2009

Esmiucemos por aí...




ELES estão de volta, a partir de segunda-feira, no canal cujo único programa decente é, precisamente, o deles. Um grande bem-haja e sejam muito bem-vindos de volta!
A alegria volta às nossas vidas. Já não era sem tempo!