domingo, 20 de setembro de 2009

"Caveman" @ Teatro Armando Cortez, Lisboa



Qual é a diferença entre homens e mulheres? Alguém sabe responder a esta pergunta numa só frase? Eu nem me atrevo. Mas a resposta é muito simples e algo Neandertal: «Mim caçar, tu colher», ou seja, os homens são feitos para caçar, competir e as mulheres para recolher, para ordenar. A própria anatomia do órgão sexual de cada um o indica, o que não deixa de ser um pensamento com alguma graça.
A peça, de Rob Becker, brilhantemente interpretada por Jorge Mourato, é de rir até cair da cadeira abaixo e rebolar pelo chão. A curta (segunda) temporada de exibição terminou hoje, no Teatro Armando Cortez e eu tive a sorte de, ao contrário da primeira temporada, em que foi impossível vê-la, visto que estava sempre esgotada, vê-la ontem, sábado à noite, em óptima companhia. Dois dos membros acompanhantes de ontem são casados e foi muito engraçado assistir às reacções de ambos sempre que se identificavam com as situações narradas por Jorge Mourato. Convém referir que a peça é um monólogo, o que eleva ainda mais a fasquia para o actor: captar a empatia de um público sozinho em palco não deve ser mesmo nada fácil, mas, verdade seja dita, o resultado foi perfeito.
Porque é que os homens usam cerca de 2000 palavras por dia e as mulheres 7000? Porque é que os homens conseguem conviver uns com os outros sem nada dizer e as mulheres precisam de falar tanto umas com as outras? Porque é que o silêncio masculino é interpretado pelas mulheres como sinal de zanga? E porque é que, não o sendo, a situação contrária o é?
Os anos 80 foram os anos em que aos homens se pediu que fossem sensíveis, nos 90, independentemente do que fizessem, eram sempre uns sacanas. E hoje, em 2009? O que se espera dos homens? A resposta é, mais uma vez, difícil, mas as sugestões são disparadas à velocidade de um homem em fúria por ter sido expulso (momentaneamente) de casa pela mulher, com os respectivos pertences a serem atirados furiosamente pela janela, que o acusa de agir como um «homem das cavernas».
«Sacanas», nós? - parece dizer Mourato. Tudo seria tão mais simples se as mulheres dissessem o que querem, sem rodeios, porque são esses rodeios que dão cabo da cabeça aos maridos/namorados.
Como menina que sou, é algo curioso identificar-me por vezes com o pensamento masculino. Não há nada mais irritante do que perguntar a uma mulher visivelmente abalada o que se passa e a resposta ser um seco : «nada».
Os homens não conseguem fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo (1-0 para nós), quando se perdem na estrada não são capazes de ter a humildade de parar para perguntar o caminho (2-0), não conseguem ter o rádio do carro ligado quando erraram o caminho porque desconcentra (3-0) e a ideia deles de ir às compras consiste em usar uma roupa até à exaustão, deitá-la fora e substituí-la por uma igual ou muito semelhante (4-0). Mas e nós, mulheres, saberíamos viver sem isso?
«Eu não sou um sacana!», grita a personagem principal no final da peça. Pois com certeza. Nem nós!

(Façam um enorme favor a vós próprios e vão ver esta peça, caso a temporada de exibição seja alargada.)

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