terça-feira, 4 de agosto de 2009

Festival Paredes de Coura - Compacto dia 2

Chegamos assim AO DIA, por excelência, do festival.
A tarde estava surpreendentemente soalheira, tal como no dia anterior, e parecia que a chuva só vinha brindar-nos com a sua presença no dia seguinte.
Às 19h entra em palco a nova coqueluche da música nacional, os Mundo Cão. Com letras de Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, e o baterista dos mesmos, bem como o vocalista e também actor Pedro Laginha, surgem em palco de negro vestidos (oh Pedrocas, fato inteiro preto e sobretudo também preto com um calor daqueles não deve ter sido pêra doce, hã? Estilo a quanto obrigas...). A música destes meninos, francamente, não me diz nada: havia uma que era sobre enrabar Descartes (Pedro Laginha dixit) e outra sobre «o romance imaginário entre Cristiano Ronaldo e a Princesa Diana, que se fosse viva não lhe escaparia» (mais uma vez, palavras de Pedro Laginha). O menino tem presença agradável, não faço a mínima ideia se é bom actor ou não, porque nunca o vi representar, é um entertainer com alguma graça e sente-se honrado por estar a actuar em Paredes de Coura, «neste dia tão especial», como disse. Suponho que seria por actuarem no mesmo dia que os Nine Inch Nails, o que só lhe fica bem reconhecer.



Seguiu-se a actuação dos Portugal, The Man, que não vi porque fui jantar. Ouvido ao longe não pareceu nada do outro mundo.
Em seguida, Blood Red Shoes, mais um dos power duos, agora tão na moda, estilo popularizado pelos White Stripes: bateria e guitarra, sendo que o baterista é quem assume o comando das vozes mais vezes. Não foi nada má a actuação destes dois meninos ingleses: bem interessante e de bater o pé. É difícil ficar parado a ouvi-los e custa a crer que só duas pessoas em palco consigam fazer aquele escarcéu todo. Interessante, sim senhora.



E era chegada a hora de Peaches.
Da Sôdona Peaches já tinha ouvido de tudo um pouco, que era uma grande maluca (e confirma-se plenamente), que os espectáculos eram tão surpreendentes (pois são-no, de facto) quanto chocantes (não concordo). Peaches deu o concerto visualmente mais rico de todo o festival e o mais apanhado dos cornos também. Trocou de roupa dezenas de vezes em palco, acabando, invariavelmente, de maillot ou fato de banho. A entrada em cena fê-la vestida de bola cor-de-rosa incandescente, qual maçã de pano geneticamente modificada. O teclista veio vestido de sapo com lantejoulas verdes, claro está e a guitarrista loira, Sassy, em lingerie preta de renda, com meias e cinto de ligas. A banda chama-se Sweet Machine, já agora, não que depois deste paleio todo sobre indumentária isso tenha especial interesse. A roupa seguinte de Peaches era uma espécie de maillot preto e branco com efeito dominó, altura em que a canadiana resolveu atirar-se para os braços do público e ali cantou duas músicas (com muito apalpão pelo meio), como podem ver pelas fotos que se seguem. A partir daí as trocas de roupa foram tantas que nem as vou descrever todas, basta apenas dizer que foi um concerto irrepreensível, de altíssimo nível, com uma espectacularidade poucas vezes vista em festivais e eu até nem gosto da música de Peaches. Faço-lhe uma profunda vénia, nem que seja só por isso.







"Peaches, fuck!", foram as palavras proferidas por Trent Reznor, em jeito de admiração pela cantora no início da actuação dos Nine Inch Nails (admiração mútua, que Peaches também já anunciara durante o seu concerto). Era chegado «O» concerto do festival e, arrisco dizer, do ano.
A emoção, pessoalmente falando, era mais que muita, tanto para mais que este era o anunciado adeus aos palcos de Mr. Reznor, se não o adeus definitivo (há que duvidar sempre do temperamento irascível do mestre dos NIN), pelo menos um adeus prolongado das digressões. A "Wave Goodbye Tour" aterrava em Paredes de Coura e levava ao festival a maior enchente de todo o cartaz, com 23 mil almas trajadas a rigor para receber uma das melhores bandas dos últimos vinte anos (não esqueçamos que o debute dos NIN, "Pretty Hate Machine" cumpre, este ano, exactamente 20 anos).
Como é sabido, cada álbum dos NIN apresenta uma encarnação diferente: desta feita foram os músicos Justin Meldal Johnsen (no baixo), Robin Finck (na guitarra, o único colaborador já de há vários anos) e Ilan Rubin (na bateria) os convidados a integrar a digressão.
É difícil transmitir por palavras o que senti ao rever, dois anos depois, os Nine Inch Nails ao vivo. Não consigo ser imparcial e nem tenho que o ser, uma vez que estas linhas fazem parte de um mero artigo de opinião. Falta-me o talento na escrita para o fazer convenientemente e, como tal, ficam as palavras possíveis.
Os Nine Inch Nails fazem parte da minha «Santíssima Trindade» (juntamente com os Tool e os Queens of the Stone Age), como costumo dizer por graça e quem me conhece bem já sabe há muito. Não dão maus concertos porque não sabem fazê-lo, dão espectáculos em que a parafernália industrial nunca se sobrepõe à essência da música em si, que é crua, e não utilizam jogos cénicos supérfluos: bastam as simples e corriqueiras luzes de palco e nada mais. Não há vídeos em background, nem espalhafatos de qualquer espécie, apenas luzes strobe, facto amplamente divulgado pelo recinto, não fosse alguém sofrer de epilepsia e não poder, por esse motivo, assistir ao concerto. Caiu bem a homenagem a David Bowie, o senhor camaleão, um dos ídolos de Reznor, na interpretação de "I'm afraid of Americans", original em que o mentor dos NIN também colaborou há 14 anos atrás, no álbum "Outside", que, se bem se lembram, marcou o regresso à ribalta de Bowie e o levou em digressão precisamente com os Nine Inch Nails.
Os vídeos que fiz no concerto e que aqui publico são de fraca qualidade e não transmitem de forma ideal aquilo que o concerto foi, mas tentam antes dar uma pequena amostra.
Aos 44 anos de idade, Trent Reznor é um homem feliz, noivo, livre das drogas que o atormentaram nos anos 90, saudável, mas cansado da vida em digressão. Que descanse durante uns tempos, mas não desista da música é o que espero. E, já agora, que se deixe de «clausurismos» e volte à estrada quando lhe passar o cansaço.
O concerto teve início com um regresso a "The Fragile", de 1999, com o tema "Somewhat Damaged" e foi ver Trent e o público a pular (tal como é visível no vídeo que fiz e publico em baixo) ao som do refrão:
"Broken bruised forgotten sore!
Too fucked up to care anymore!
Poisoned to my rotten core!
Too fucked up to care anymore!"

21 temas tocados, menos um que na noite anterior, no La Riviera, em Madrid, tal como nos diz a Miss I Am Free no seu blog. Vejam também as fotos por ela tiradas, que são bem melhores do que as minhas, como aliás já é costume.

Fica o alinhamento e as minhas fotos:

Somewhat Damaged;
Terrible Lie;
Sin;
March of the Pigs;
Piggy;
The Becoming;
I'm Afraid of Americans (versão de David Bowie);
Burn;
Gave Up;
La Mer;
The Frail;
The Wretched;
Non-Entity;
I Do Not Want This;
Gone, Still;
The Way Out is Through;
Wish;
Survivalism;
The Hand That Feeds;
Head Like A Hole;

Encore:
Hurt.








Faço das palavras finais de Reznor as minhas, porque ele é que percebe disto:
"If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way."

2 comentários:

Miss-I-Am-Free-Because-I-Belong-Nowhere disse...

como sempre muito boas as tuas críticas! Ainda bem que o concerto de Peaches foi brutal, porque eu estive assim de levezinho na rádio e pareceu-me deveras fraco e aborrecido! Certamente, era da transmissão, o som tb não era o melhor.

Como já era de esperar, Mr. Trent e companhia deram um grande concerto, muita inveja de não terem tocado em La Riviera o Terrible Lie, mas não se pode ter tudo :p. Esperemos que não seja mesmo o «adeus» deste génio, seria demasiado «painful», mas como sei que ele não pode viver sem nós e nós sem ele, um dia destes ele há-de lembrar-se de voltar, para nosso delírio! :D

Vá, agora temos de começar a poupar para a época ininterrupta de concertos que teremos a partir de Novembro...ufff, acho que tenho de voltar às maratonas tradatulógicas (suspiro)...ou não!

E venha Faith NO MOre! yeaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Battle Axe disse...

Gracias, Anita! :-)
Sim, haja carcanhol para tanto concerto que este Outono nos está a despejar no colo!
Acho que vou pedir ao reverendo Manson que me cante os parabéns no concerto: não faz mais do que a obrigação dele! Afinal o meu aniversário vai ser passado a vê-lo!
E agora: Faith no More! Mike Patton, filho, aqui vamos nós! :-D