domingo, 14 de dezembro de 2008

Gogol Bordello: os verdadeiros Gypsy Kings










Luzes, câmara, forrobodó. O gypsy punk aterrou na Praça de Touros do Campo Pequeno sem pedir licença e, assim como quem não quer a coisa, aqueceu uma fria noite outonal de Dezembro do ano da graça do Senhor de 2008.
Cá fora, uma carrinha VW com mais de surfista do que propriamente cigano debitava "Super Taranta!" aos gritos como que a antecipar a rebaldaria. Demos o desconto à Optimus, a patrocinadora da noite: os senhores percebem de telemóveis, não de música. E daí tudo bem, desde que vão acertando, como foi o caso desta noite.
Desconhecia-se se iria haver banda a fazer a primeira parte por isso, e como os bilhetes marcavam as 21h para o início do espectáculo, vai de correr que nem umas desalmadas para dentro da sala para marcar lugar bem juntinho ao palco, na plateia e também para não perder pitada. Afinal não valia a pena tanta correria pois não só não houve primeira parte, como a espera de uma hora se revelou aborrecida, com uma espécie de creche de miudagem demasiado bêbeda e/ou drogada atrás de nós, daqueles que não se aguentam em pé depois de uns copos e desatam a cair para cima dos outros com os esperados safanões e cotoveladas a serem dados aqui pelas meninas já pelos cabelos de tanta imberbérie.
Depois do furacão sonoro a que já tínhamos sido submetidos no Alive! deste ano, esperava-se, no mínimo, o mesmo e eis que Eugene Hutz e sua trupe invadem o palco, de garrafa de vinho na mão. "Illumination" começa e dá-se igualmente início a uma sessão de mosh digna de um concerto de heavy metal. Desde Machine Head, no Getafe Electric Weekend deste ano, em Madrid, que não me via em tamanha confusão. Parece que afinal estar ali juntinho ao palco não tinha sido assim tão boa ideia e a solução foi tentar furar por entre a canalhada para um pouco mais ao lado do palco. Via-se bem, não havia confusão e... respirava-se.
A comunicação com o público resumiu-se a uma única palavra durante todo o concerto: «obrigado». Não se lhes pedia mais, até porque os Gogol suaram as estopinhas durante aquelas duas horas. Seis em palco, depois oito, com as cheerleaders/bailarinas/tocadoras de bombo e pratos/etc a dançarem freneticamente e a puxar por uma multidão já de si enlouquecida. Era ver homens a agarrar nas companheiras e amigas e a puxá-las para dançar (onde havia espaço), como se estivéssemos não num concerto mas numa sala de baile de terrinha. Ver Gogol Bordello sem abanar a anca é como ir à bola e não insultar o árbitro: não dá. Por isso, let's shake that ass!
A festa brava continua com "Ultimate", "When The Trickster Starts A-Poking (Bordello Kind Of Guy)", "Supertheory of Supereverything / Immigrant Punk / Dogs Were Barking", "Wonderlust King", "Mishto!", "Tribal Connection" , "60 Revolutions", "American Wedding", "Not A Crime", "Baro Foro" e, no encore, "Start Wearing Purple", "Cynic", "Mala Vida" e, a terminar, "Think Locally, Fuck Globally". Pelo meio, ainda houve direito a uns versos de "Another Brick in the Wall", dos Pink Floyd.
Eugene Hutz esperneia, salta, dança que nem louco, vai bebendo a sua garrafita de tinto em palco, agarra num balde vermelho que enfia no tripé do microfone e faz dele bateria, como se o cagaçal sonoro não tivesse ainda decibéis suficientes e, no fim «partilha» o resto do seu vinho com os presentes na primeira fila. No final, balde e garrafa ao ar, qual casamento cigano. Os estilhaços indicam que acabou aqui. E siga a dança!

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