segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Super Bock em Stock, 4 e 5 de Dezembro 2009



Ora aqui estava um festival a que não esperava assistir (o chamado movimento indie não é exactamente a minha onda), mas que, graças ao concerto dos ingleses Piano Magic, me baralhou as voltas e fez imediatamente reconsiderar ideias pré-concebidas. Andava, há coisa de mês e tal ou dois meses, a salivar para os ver ao vivo, desde que um belo dia, a caminho do trabalho, de mp3 na mão e Rádio Radar no ouvido, me deparei com o mui nick-caveano "You never loved this city", cantado por Brendan Perry dos Dead Can Dance. Pensei para os meus botões: será que alguma vez vou poder vê-los ao vivo? A resposta não tardou, sob a forma de festival. Confesso que, tirando os Piano Magic e uma ou outra canção dos Voxtrot não conhecia praticamente mais nenhuma banda que lá ia, exceptuando o nosso Legendary Tiger Man.
Bom, mas como dizia a outra, isso agora não interessa para nada, porque a verdade é que me fartei de curtir no Super Bock em Stock, o tal festival que eu apelidava de festival dos freaks.
Na impossibilidade de assistir a tudo o que queria ver, devido aos já conhecidos disparates da Música no Coração, que organizava o evento (mas porque é que insistem em pôr as bandas que o público quer ver todas à mesma hora?), tive de me dividir o melhor que pude pelas salas da Avenida da Liberdade. Comecei pela sala 1 do S. Jorge, onde assisti ao concerto dos Voxtrot, o que me impediu de, à mesmíssima hora, acompanhar o nosso Homem Tigre no Teatro Tivoli. Acabados os Voxtrot desatei a correr para o Tivoli a ver se ainda apanhava parte da actuação do one-man show, Paulo Furtado, mas tive de aguardar lugar na sala, pois estava demasiado lotada. Quando finalmente consegui entrar, Tiger Man estava em palco com Rita Redshoes, mas já a terminar a música, pelo que assisti a algumas músicas e ao mau feitio do músico, agastado pelo facto de os ecrãs não estarem a funcionar como deviam. Do que vi gostei bastante, pena foi não ter conseguido ver o concerto de início.
No dia seguinte fui dar uma espreitadela ao concerto dos Oioai, na sala 2 do S. Jorge, mas devo dizer que não me entusiasmaram por aí além. Para além de um guitarrista parecido ao António Variações e completamente apanhado dos cornos (e também bastante pedrado), pouca coisa me ficou na memória, além da quantidade de caras famosas que por ali andavam (o que não espanta, já que o baterista da banda é Fred, filho de Kalú dos Xutos & Pontapés). Não fiquei até ao final do concerto porque no terraço do Hotel Tivoli estavam os Noiserv, ou pelo menos era isso que eu achava. Tarde demais: quando lá cheguei tinham acabado a actuação há pouco e Piers Faccini já se alinhava a seguir. Novo retorno ao S. Jorge, pois na sala 1 iam começar a actuar os The Invisible (que não conhecia, mas cuja descrição me pareceu bem) e em muito boa hora o fiz! Que concertão! As comparações com os TV on the Radio não são muito pertinentes, a não ser que tenhamos em conta a cor da pele do vocalista. Muito bom, enérgico a rodos e a primeira banda que me pôs a abanar o pézinho nessa noite. O single "London Girl" foi simpaticamente transmutado para "Lisbon Girl", uma jogada de charme da banda que só lhes ficou bem. Uma boa descoberta. Antes do final da última música desatei, mais uma vez a correr para a sala 2, porque «A» banda que me levou ao festival ia começar dentro de minutos. Pensei, na minha lógica, que a minúscula sala não iria conseguir albergar toda a gente que ia querer ver os Piano Magic, mas quando lá cheguei fiquei espantada pelo vazio que encontrei. Fui das primeiras (únicas?) pessoas a chegar e a sala não encheu, longe disso, aliás. Fiquei fula. Como é possível? Que desrespeito, achei, mas a isso não será, decerto, alheio o facto de os Little Joy (a banda do baterista dos Strokes, Fabrizio Moretti) estar a actuar do outro lado da avenida, no Tivoli, à mesma hora. Os Piano Magic mereciam muito mais do que a meia-dúzia de gatos pingados que os foi ver.
Para o final, mais uma correria desenfreada escada acima para assistir ao concerto do canadiano Patrick Watson, que, para variar, também não conhecia. Foi o concerto mais concorrido do festival e entrar na sala foi tarefa complicadíssima. A segurança era implacável e tive de assistir a umas quantas músicas cá fora, pois a sala estava completamente a abarrotar. Cá fora apercebi-me que o vocalista estava a cantar com um megafone, mas não entendi porquê (pensei que a música fosse mesmo assim), mas só depois, ao obter permissão para entrar na sala é que percebi o motivo: a PA foi abaixo 2 vezes antes de eu entrar e, ao invés de dar o concerto por terminado, Patrick Watson e sua banda resolveram continuar a actuação, contrariando os percalços e dando a volta à situação de uma forma nada menos que brilhante. Entretanto o som voltou, mas a banda continuou a actuar quase na penumbra (quando não o era totalmente), talvez por receio de ficarem outra vez sem som. A voz de Watson é arrepiantemente semelhante à de Jeff Buckley, uma das minhas vacas sagradas e eu não costumo achar graça a imitações. Neste caso, e apesar de a música ser talvez demasiado calma para o que costumo ouvir, tenho de lhe tirar o meu chapéu: foi uma actuação fantástica, irrepreensível e talvez a melhor que alguma vez vi. Qual era a banda que, sem PA (voltou a acontecer mais uma vez, no total de 4 vezes!) continuava a tocar? Na última falha de som, Watson agarrou numa espécie de mochila com megafones e foi para o meio do público, cantar assim mesmo, enquanto que o baterista agarrava num bombo da bateria e o acompanhava, bem como os restantes músicos e respectivos instrumentos. Em seguida, cantou sem qualquer música ou microfone, a capella, também no meio das filas de lugares sentados do S. Jorge, tal como se fosse um anónimo espectador, tendo por único acompanhamento as palmas do público e os coros que nos ia pedindo para fazer. De arrepiar dos pés à cabeça! Ovação de quase meia-hora, como devem imaginar, nem que fosse só pela atitude dos músicos, empenhadíssimos em levar o espectáculo a bom porto, apesar de todas as contrariedades.
O som lá acabou por voltar a funcionar e, para o final, mais uma música a capella, mas desta vez já em palco, com a restante banda a fazer divertidíssimos coros em falsete, em "Shame".
Doiam-me as mãos de tantas palmas que bati, mas foram mais do que merecidas. Cá fora multiplicavam-se os comentários de: «Espectacular!», «Melhor concerto que alguma vez vi!», «Tu viste-me aquilo, a tocarem mesmo sem som?», «Brutal!» e que tais, com montes de razão.
Para terminar a noite, havia que dar uma saltada ao palco after-hours montado no Parque de Estacionamento do Marquês de Pombal, onde tinham acabado de actuar os Kap Bambino (que voltei a falhar, depois de já os ter ignorado este ano em Paredes de Coura), uma bandazeca irritante até mais não, mas que anda a pôr o povo louco, não sei muito bem porquê. Mistérios indie? Deu para assistir a umas músicas de Dr. Ramos, DJ da Radar e o relógio já batia uma hora demasiadamente tardia para se continuar nestas vidas. Depois de 3 concertos e um festival de 2 dias no espaço de apenas 7 dias e uma semana intensa de trabalho as minhas pernas já não aguentavam muito mais. Cama precisava-se! Agora é ressaca concerteira, pelo menos até dia 17, dia TCV (yey!), que também é já para a semana.

Saldo do Super Bock em Stock: extremamente positivo.
A repetir?: Indubitavelmente!

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