sábado, 8 de novembro de 2008

Peter Murphy@Coliseu dos Recreios, 01/11/2008
















E o que fazer no Dia de Todos os Santos? Ir ver Peter Murphy, pois então.
O ex-líder dos Bauhaus tomou de assalto o Coliseu em noite de finados para dar um dos concertos mais electrizantes que alguma vez vi. Os 51 anos de idade deste verdadeiro cavalheiro inglês carregam mais energia e garra que muitas bandas na casa dos vinte com a mania que são muito à frente.
Educadíssimo, muito comunicativo e profissional, Mr. Murphy deu um concerto de mais de duas horas, com direito a três encores e de uma entrega como há poucos. À parte dos «olás» e «obrigados» costumeiros, brindou-nos ainda com elogios ao belíssimo edifício que é o do Coliseu e às calorosas recepções de que é alvo no nosso país. Estava em casa, sentia-se no ar. E nós também.
O alinhamento incluiu "Marlene Dietrich's Favorite Poem", "A Strange Kind of Love", a inevitável "Cuts you Up", "All night long", "Deep Ocean Vast Sea", "Huuvola", clássicos dos Bauhaus, como "She's In Parties", "Bela Lugosi's Dead", "Black Stone Heart" e algumas versões de David Bowie, incluindo "Starman". Mas os verdadeiros momentos da noite, para mim, foram "I'll fall with your knife", de uma beleza devastadora, um dos melhores temas algumas vez gravados por Murphy, daquelas canções que ficariam a matar na banda-sonora de um casamento para pessoas que ainda se dão ao trabalho de fazer semelhante disparate e a versão mais do que inspirada de "Hurt" dos Nine Inch Nails, com coreografia a condizer, cantada no topo de uma cadeira de metal com degraus até ao tecto. "This is an English fado", disse após cantar "Hurt". E porque não?
Lamenta-se a não inclusão no alinhamento de "The Scarlett Thing in You", "Roll Call", "Hit Song" ou "Final Solution", mas numa carreira que já atravessa três décadas não era fácil seleccionar os temas a compor o alinhamento, suponho.
Ele correu, atirou-se ao chão, dançou, esvoaçou pelo palco sem parar durante todo o concerto, com um fulgor impensável e, importante reter, sem por isso dar origem a qualquer falha de voz. Impecável.
Pelo meio tivemos direito ao single de apresentação do próximo álbum a sair em breve: "Velocity Burns", percebi eu, não sei se bem. Quando questionado por um membro do público sobre o título do álbum que se encontra a gravar respondeu que não iria revelar para já. Está a gravá-lo a expensas próprias (influências de Trent Reznor?) e, até ver, fica tudo no segredo dos deuses. Pela música apresentada, se é que isso pode ser representativo do que quer que seja, parece ser um álbum com o pé no acelerador, passe o trocadilho óbvio. Good...
«Hei-de voltar», prometeu. E nós também.

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