sábado, 18 de outubro de 2008

Porcupine Tree @ Incrível Almadense, 7 de Outubro 2008








Já vem um bocadinho ao retardador, mas não estava esquecido, pois com certeza que não, o concerto dos britânicos Porcupine Tree no passado dia 7, na Tour of a Blank Planet, cuja pedra-base é o registo homónimo do ano passado. A banda resolveu dar algum trabalho aos fãs, como se esperar por um concerto deles há já alguns anos não fosse tormento suficiente e fez-nos ir parar à Margem Sul, mais concretamente a Almada, transformada num verdadeiro estaleiro devido às obras do célebre metro de superfície a inaugurar, decerto, em plena época de eleições legislativas como convém e cuja utilidade, até ao momento, se desconhece. «Táxis» também parece ser conceito desconhecido na zona, tal não foi a longa espera pelo único veículo (!) que se dignou a funcionar nessa noite. Agora percebe-se o sentido das palavras de Mário Lino há cerca de um ano atrás de que «A Margem Sul é um deserto». Deserto não será, mas assemelha-se perigosamente a uma cidade-fantasma. Em vez de se apontar o dedo às infra-estruturas que faltam, numa região que cresce a olhos vistos, mercê da galopante crise financeira mundial que obriga muitas famílias a fugir de Lisboa e a encontrar refúgio habitacional na outra margem e, assim, a escudar-se, ainda que a título provisório, das imparáveis taxas de juros que dão origem ao já mais que célebre chavão, «sobra demasiado mês para o ordenado que se ganha», o governo parece preferir esconder a poeira sob o tapete e apelidar de «deserto» uma cidade em que deveria investir e dotar de estruturas capazes. Perdoem-me os cerca de dois ou três leitores que se dão ao trabalho de consultar este meu cantinho blogueiro o início atípico de um artigo que se quer sobre música e não de considerações políticas, que isto é um blog sobre treta e é assim que deve ser mantido. Adiante então.
A abertura é feita pelos Pure Reason Revolution, banda que desconhecia por completo e também não fiquei com uma vontade por aí além de conhecer. Sonzinho chato, com uns teclados a lembrar ocasionalmente os divinos Nine Inch Nails, o que prejudica mais do que ajuda, «penso eu de que».
Sem saudações ou sequer qualquer tipo de apresentação inicial, dá-se início ao concerto da noite ao som de "Wedding Nails". Os 41 anos de Steven Wilson não lhe pesam e o aspecto de "nerd" adolescente (é favor conferir as fotos) fazem-no aparentar metade da idade que tem. A noite era, nas palavras de Wilson, para tocar temas menos conhecidos pelos fãs, pelo menos os mais recentes e privilegiar muitos temas iniciais. «Quantos de vocês têm o "Signify"?» pergunta o vocalista a dada altura. Muitos dedos no ar, talvez demasiados, dado o relativo estatuto de banda de culto dos Porcupine Tree em Portugal. «A sério?», pergunta. Vá-se lá saber. Os sites de torrents estão aí é para isso, certo? Quem não tem o CD físico passa a tê-lo de outra forma, amigo: habitua-te.
O som que saía das colunas era surpreendemente límpido e não faria adivinhar que se estava num modesto salão de baile almadense, sala deveras inadequada para uma banda da dimensão dos Porcupine Tree. Exigiam-se condições mais consentâneas com o estatuto da banda e o facto de a sala estar cheia é disso prova. Um Coliseu dos Recreios, por exemplo, seria o ideal. Não percebi a opção pelo Incrível Almadense. Falta de dinheiro da promotora?
Regresso a "In Absentia", com "Blackest Eyes" e, de seguida, um portento de quase 18 minutos chamado "Anesthetize", de "Fear of a Blank Planet", uma das melhores canções de sempre dos Porcupine, que, apesar da longuíssima duração, passa a voar. Volta-se a um passado recente, 2005, a "Open Car" de "Deadwing", outra das «mais» da banda. Segue-se-lhe "Dark matter", a pôr à prova o tal conhecimento de "Signify" por parte do público presente e novo regresso a "In Absentia", via "Drown with me".
Nas filas iniciais junto ao palco, onde me encontro, os seguranças empunham laternas, prontos a registar e dissuadir quem se atrevesse a tirar fotografias à banda. Como se pode ver, não cumpri.
Recuamos 13 anos para ouvir a calmaria de "Stars die" para, em seguida, avançar novamente até 2002, ao som de "Strip the Soul". "Half Light", um lado B da edição em vinil de "Deadwing", igualmente incluída no DVD do mesmo, é o tema que se segue. "Way out of here" e "Sleep together" que terminam "Fear of a Blank Planet" finalizam o alinhamento da noite. O breve encore, e utilizo o termo «breve» pois incluiu apenas dois temas (se há coisa que as canções do grupo não são é breves): "Sleep of no dreaming" e o brilhante "Halo".
Sucedem-se os «obrigados» e «voltaremos em breve» da praxe. Pois muito bem, mas desta vez noutra sala, se fizerem favor.



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